terça-feira, 1 de julho de 2014

Irmãos


Dizem-me sempre que não há amor como o que se sente por um filho, eu acredito. Nunca pari, mas tenho uma irmã e deve ser muito parecido a esse amor incondicional de que se fala ao evocar o nascimento de um filho. Bem sei que há irmãos e irmãos, há relações e relações mas há laços inquebráveis. Os pais não nos ensinam a amar os irmãos da mesma forma que nos ensinam a apertar os atacadores ou a escovar os dentes. Não há teoria para o amor, há a prática, há o coração aberto, há o sentimento de que éramos capazes de tirar da nossa boca para dar ao nosso irmão. Os irmãos não julgam, não criticam para magoar, não falam de nós nas costas nem destratam quem amamos mesmo que achem que merecemos melhor. Os irmãos sabem sempre as nossas falhas, os nossos medos sem precisarmos de falar disso tudo ou de nos tocar na ferida de forma áspera e dura. Os irmãos estão connosco na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza. Se “baterem” ao nosso irmão doí-nos a nós, diria até que dói ainda mais e de forma mais violenta. Se alguém lhes levantar a mão lá estaremos nós prontos a segurá-la antes de ela ouse pousar e magoar. E se não chegarmos a tempo vamos lá depois pedir satisfações e tomar as dores como se fossem nossas. São, na verdade. Os irmãos gostam de nós como somos, com aquele roupa mais bonita ou o traje de andar por casa. Os irmãos até podem dizer “Não” mas voltarão sempre com a palavra atrás e os braços abertos. Os irmãos discutem, agridem-se mas arrependem-se mesmo que demorem a reconsiderar. Para ser irmão não existem licenciaturas, mas se existissem também haveria muita gente a não ter média para entrar. Às vezes, os irmãos sabem o que nem nós sabemos. Mas eles não dizem, deixam-nos ir lá bater com a cabeça ou ser ainda mais felizes com as nossas decisões. Eles permanecem lá connosco mesmo que seja em silêncio à espera que precisemos deles e nunca vão dizer-nos: “Eu avisei-te” mesmo que o pensem. A sua missão não é a de consciência, a sua missão é a de amor, só. Eles não sabem sempre o que é melhor para nós, mas sabem que independentemente disso estarão sempre lá a amparar as quedas ou a brindar as vitórias. Não há irmãos perfeitos, mas há irmãos eternos.

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C.

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Todos queremos um lugar ao sol



     Este ano tivemos um Inverno rigoroso. Pelo menos aqui na capital foi um bocado atípico em relação a anos anteriores. Poucos dias de sol, muita chuva e frio de não se largar um casaco quentinho e umas luvas de salvação. É verdade, esta é a minha primeira crónica sobre o tempo, esse assunto que tantas vezes nos ajudou em momentos constrangedores sobretudo em viagens de elevador. Os primeiros raios de sol da suposta Primavera enganaram-nos e iludiram-nos. Deram-nos esperança de que era altura de arrumar os guarda-fatos, guardar cobertores e galochas e soltar os óculos de sol e as camisolas leves. Puseram-nos a correr para as esplanadas à procura do melhor ângulo para deixa vir a nós o grande sol. E muitas vezes quase que deve ter havido uma guerra entre quem ficaria com as mesas ao sol. Na verdade é por ele que lutamos todos os dias, todos queremos o verdadeiro lugar ao sol. Esse lugar pode ser numa qualquer esplanada da cidade ou numa carreira de sucesso.
     Encontrar um lugar ao sol é fácil, provavelmente iremos tropeçar nele sem sequer nos apercebermos. O difícil será alcança-lo e mantê-lo debaixo dos nossos pés. Pelo meio vamos encontrar muitas sombras, raios e coriscos e muita chuva a estragar-nos o cabelo alisado pela manhã depois do banho.
E mesmo sabendo que o lugar ao sol é difícil de conseguir e é preciso correr por ele continuamos todos a querer o melhor lugar num concerto ou peça de teatro, o melhor par de sapatos para combinar com aquele vestido, o melhor estacionamento e mais perto do sitio onde vamos, o melhor peixe da bancada da peixaria, o bolo mais apetitoso da montra. Está na nossa natureza e na educação que nos deram. Fomos educados a procurar o melhor e a dar o melhor de nós aos que mais gostamos. Esta segunda parte é mais altruísmo do que outra coisa e quase sempre envolve um conflito entre o que queremos para nós e o que estamos dispostos a dar de nós aos outros.
     Na verdade encontrar um lugar ao sol é um bocado a sensação da Primavera nos estar a entrar pela janela do quarto e ao menos sabemos que mesmo que esse lugar só dure uma estação, ela vai repetir-se todos os anos. A meteorologia está mais ligada à nossa vida do que podemos pensar.

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     C.

terça-feira, 4 de março de 2014

um anti-stress com a forma errada.


     A minha mãe diz-me muitas vezes "Não estás bem com a roupa que tens". E não estou mesmo. Quase nunca estou bem com a roupa que tenho. Acho que por um lado é bom. Sinal que procuro sempre mais e melhor (e para quem ainda não percebeu, não estamos mesmo a falar de roupa), sinal que só me contento com o melhor. Por outro lado, será que me contento mesmo? Surge sempre aquela sensação de incumprimento e de trabalho deixado a meio. Odeio trabalhos deixados a meio, mas a sensação do final e da perfeição também me irritam. Mesmo quando me acho uma pessoa perfeccionista. Serei bipolar? Ou serei só "expectativo-depende"? Se pensar bem até posso ser "exigenteódriaca"? 

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     C. 

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Infância com histórias dentro


     Sou do tempo em que brincar era quase uma profissão. E era uma tarefa levada muito a sério. Nasci nos anos 80 e brinquei durante todos os 90, devo ter estoirado os últimos cartuchos da brincadeira já depois de 2000, esse ano estranho com tantos zeros. Sou do tempo em que tudo o que me rodeava era visto como uma ferramenta para uma futura brincadeira. 
     Se estava no WC inventava uma farmácia, se ia à dispensa podia imaginar que estava num supermercado e fazia lojas de roupa em cima de camas e ao lado de guarda-fatos como quem faz um crumble se tiver muitas maçãs.  Um simples caminho estreito de cimento podia ser uma passerelle e uma árvore de tronco grosso podia ser uma aldeia ou uma cidade. Molas da roupa podiam ser pessoas e quem sabe poderíamos ver uma expressão facial numa batata assada a murro. 
     O tempo era sempre curto e era preciso correr para brincar, era preciso gritar como se isso fosse acelerar a viagem até aos objectos de brincadeira. Sou do tempo em que éramos felizes por poder riscar e fazer desenhos numa parede, sou do tempo em que ter 4 ou 5 anos não nos impossibilitava de ter filhos e ainda sem saber ler ou lavar o cabelo sozinha já tinha duas filhas que levava para todo o lado num carrinho com mala de roupa atrás. Sou desse tempo em que 4 paredes podiam ser qualquer parte do mundo e que uns sapatos altos calçados não me cansavam os pés. Daquele tempo em que um cabo de vassoura dava para passar uma tarde em cantorias na varanda a inventar letras e rimas com músicas ouvidas na televisão. Sou do tempo de contar as horas para o toque e ir a correr para ver a saga do Dragon Ball.
     Hoje dão-se os smartphones, os tablets ou computadores para entreter os miúdos aborrecidos em vez de dar essa chance para uma viagem pela imaginação. Hoje eles já sabem tudo sobre as máquinas, mas não sabem consultar um livro ou uma biblioteca. Hoje sabem tudo sobre o mundo sem ter experimentado sair por aí e voltar já quase de noite depois de ter sido enfermeira, advogado ou balconista apenas numa tarde. 
     Hoje eles não sabem a magia dos "entas" e de como era bom chegar a casa e ter só um lanche para comer e um montão de brincadeiras para tratar. Parece que nascem ensinados, mas às vezes vejo nas suas carinhas uma ligeira apatia apenas quebrada nas brincadeiras de domingo à tarde no parque. As conversas já são de adulto e as preocupações precoces roubam o tempo para sonhar, falar com as cadeiras da sala como se fossem pessoas ou cantar para as flores no jardim. Hoje a agenda é demasiado cheia e sem possibilidade de tirar o dia para ficar só a brincar. E que chato que é não poder tirar o dia para fazer só o que nos apetecer. 

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     C.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

em agenda para 2014.


     Mostro a minha agenda de 2014 ao Mundo um pouco tarde. Ela já anda a "rolar" desde dia 2 de Janeiro e não tem tido muito descanso, pelo menos em dias úteis. Gostava de escrever coisas novas nela em breve e como não acredito muito em signos e no destino acho que vou começar a trabalhar nesse sentido. Sou das que se cansa depressa, das que precisa de coisas novas, de cheiro a novo, da novidade, da empolgação do arranque. Pouco tempo para mim é demais e as coisas certas são chatas. Ao mesmo tempo que reclamo por estabilidade em algumas coisas, preciso da pressão e novidade nas outras. Enquanto vai e não vai, posso dizer-vos que estamos a meio de Fevereiro e já levei avante um plano que estabeleci para 2014. A correr assim, de mês e meio em mês e meio, não vai correr nada mal. 

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     C.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

relações intensas.


     Quando estou feliz apetece-me comer, quando estou aborrecida apetece-me comer e quando estou triste vou comer para tentar esquecer. Esta minha relação com a comida é intensa. Não consigo pensar em muitos bons momentos que não envolvam comida. Não consigo imaginar uma mesa vazia sem nada para petiscar ou o meu frigorífico despido e abandonado. Penso em comida para comer, penso em comida para fazer. Se me deito já estou a pensar no que vou comer no dia seguinte. Se me levanto já estou a pensar no jantar. A leveza que sinto a ouvir bossa-nova e a cozinhar é comparável à sensação de estar numa praia sem ninguém e sentir o vento na cara enquanto oiço o barulho do mar. 
     Não lhe chamaria terapia. Mas via-me a fazer isto de cozinhar e a comer logo depois a vida toda. Essa magia vai além do resultado físico, esta magia está na cara das pessoas que vão comer e fazer desse prato um integrante fundamental daquele momento de prazer. O melhor de cozinhar está aí mesmo, na magia de fazer as pessoas felizes. Mesmo que, por vezes, essa felicidade seja egoísta e que apenas se oiça um garfo e esse garfo seja o nosso.

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     C.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

janela de alma.


     A vida era tão mais fácil se fosse Verão o ano inteiro. Colocar Verão e Inverno numa balança é saber que uma vai pesar consideravelmente mais. No Inverno há Natal, chocolates quentinhos, meias de lãs, roupa aconchegante, calor cá dentro e muito frio lá fora. Mas tudo isto chega durante meia dúzia de dias. Depois disso o frio e a chuva começam a deprimir a alma e e tudo que queremos ver é a bonança. A bonança não é nada mais nada menos que: O Verão. 
     Nesta estação consigo fazer um campo lexical enorme, nesta estação a alma é mais feliz e leve. As pessoas ficam mais bonitas e tudo parece menos grave. Há sol e calor, há finais de tarde em esplanadas solarengas. Há pôr-do-sol sem correria, há dias de praia sem fim, gelados em cada esquina, bolas de berlim, corpos dourados do sol, cabelos molhados e esvoaçantes. Há menos roupa para arrumar e pôr na mala. No Verão há comes e bebes para desfrutar com amigos ao ar livre, há acordares mais fáceis, há bebidas frescas que refrescam o corpo e o dia. No Verão pode ser dia ou noite que tudo parece encaixar no seu devido lugar. No Verão não são precisos pretextos e as coisas acontecem naturalmente. No Verão há peixe assado com sangria gelada e sabem ainda melhor que no Inverno. No Verão há festas em cada esquina e mais difícil é decidir a qual se vai. No Verão, a playlist é melhor ou então faz o ouvido mais feliz. 

     Love
     C. 

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

semanas que parecem meses.


     Às vezes sinto-me a negligenciar este espaço e isso deixa-me com um aperto no coração. As pessoas apegam-se, criam laços mesmo que seja com coisas materiais com bastante teor emocional. Tenho pena da minha vida não ser mais emocionante ou de nem sempre me lembrar que preciso de uma fotografia se quero contar a história aqui. Comprometi-me desde o início e nisso não vou falhar. Depois a falta de tempo, a correria para fazer máquinas de roupa, preparar o jantar e o almoço, o banho, o gato, a lista de supermercado em semanas destas que parecem meses. É segunda-feira  e já trabalhei o equivalente a dois dias, chego a quarta parece que já é quinta, respiro e continuo a corrida até sexta-feira. Grande parte do meu dia é aqui, grande parte do vosso também será por aí. Às vezes penso nisso. Parece tanto tempo a trabalhar e outro tanto a dormir e, na verdade, estas duas coisas às vezes parecem um verdadeiro desperdício de tempo. 

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     C.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

O amor não se referenda


     Não se referenda o amor. Nem a igualdade devia ir a votos numa democracia. E muito menos um país com tantos problemas devia perder tempo e dinheiro a referendar um direito de igualdade.
     Em vez de caminharmos na evolução continuamos atados ao conservadorismo e preconceitos de que dois seres do mesmo sexo jamais terão as condições de “normalidade” ou farão parte do conceito família do tempo do Salazar. Pois, é verdade que não terão e ainda bem. Mas isso não os impede de ter o amor que essas crianças precisam para viverem felizes. Duas mães, dois pais serão sempre melhor opção que um apenas ou nenhum. Quem do alto da sua sabedoria, conservadorismo e até alguma infantilidade acha que tem o poder de pôr na mesa o futuro destas pessoas certamente não saberá o que é ser órfão e saltar de casa de acolhimento em casa de acolhimento.
     Se tudo isto é em prol das crianças, como se diz, deve antes pensar-se em que adultos se transformarão estas crianças após viverem de um lado para o outro, sem amor, sem educação, sem uma história de vida estável e um lar ao qual possam chamar: Casa.
     Se não nos perguntaram se queríamos entrar na UE, ter uma nova moeda ou ter a Troika à perna não nos podem pedir para votar e decidir o futuro destas famílias. Se algum discernimento ainda existir a lei será aprovada sem termos que usar um domingo para referendar o amor. E a verdade é que um referendo assim me assusta profundamente. Se a classe que se diz evoluída e toma as decisões por nós é contra ou está a tentar atrasar este processo será que a restante sociedade irá pôr de lado os preconceitos e votar SIM?!
     Estamos juntamente com a Rússia, Roménia e a Ucrânia a violar a Convenção Europeia de Direitos Humanos. É isto que se espera de um país civilizado onde pelos vistos afinal só reina uma espécie democracia?
     Estou há meia hora a pensar nisso e só consigo dizer-vos que amor é preciso agir em vez de falar ou escrever e não há lei que diga o que podemos ou não sentir.

     Love
     C.