terça-feira, 8 de novembro de 2016

"...e não acredito no amor"


"Tenho 41 anos e não acredito no amor.
Já não acreditava nele quando tinha 20 anos. Olhando para todo o meu histórico nem sei se alguma vez acreditei no verdadeiro sentido que a palavra "acreditar" tem.
Mas eu sei que ele existe. Algures ele existe, só nunca chegou a mim. Nem naquelas coisas simples como se costuma ler nos livros.
Não tenho animais de estimação, não tenho filhos, não tenho plantas nem faço nada que orgulhe alguém ou lhe tire o sofrimento.
Eu sei o que é o amor e é todo o contrário do que eu sou neste mundo.
Não acredito nele, porque ele não me toca. Nunca me tocou mesmo naqueles dias em que eu estava prestes a ceder e a deixá-lo entrar sem cerimónias.
O amor não são só rosas. Entre uma dor gigante e um conforto constante eu escolhi o conforto.
Não me confundam. Eu tenho emoções e talvez até tenha alguns sentimentos, mas não amo nem deixo que me amem.
Dizem-me que não posso saber o que é o amor, mas sei. Acreditem que sei, porque ele é tudo que eu não sou. Ele está onde eu não estiver e sai sempre que eu entrar.
Não sou infeliz. Acordo e adormeço da mesma forma e no final vou acabar no mesmo sítio que vós."


terça-feira, 12 de abril de 2016

a Casa.

     



     Ela sonhava com uma casa ampla e branca. Era sempre essa a cor que via nos seus sonhos. Uma casa cheia de vida onde o sol pudesse entrar sem ter de fazer grandes cerimónias. Uma casa com paredes lisas e brancas com espaço para colocar sonhos, recordações e pensamentos.

     Uma casa com cheiro a casa, com a aparente desarrumação de sítio onde se vive. Ela sonhava com esse sítio todos os dias. Vi-a como o local onde se podia chegar e largar tudo que era mau, deitar o corpo e recuperar o fôlego. 

     Ela queria um chão que existisse de facto, onde devia ouvir ecoar os passos dos que ama de manhã ao acordar e antes de dormir. 


     Ela queria uma casa com um tecto forte onde não entrassem fantasmas nem sombras perigosas. Um templo sem grandes luxos, mas com tudo que é essencial para viver e querer viver mais todos os dias. Ela queria uma casa que fosse uma proteção contra todos os perigos e pesadelos. Uma casa que soubesse o que dizer e se não fosse preciso dizer nada, que soubesse respeitar o silêncio.

     Ela queria essa casa com uma chave dura e inquebrável contra roubos e desilusões. 

     Ela só queria uma casa a "quem" pudesse chamar de: a Casa.