quarta-feira, 28 de agosto de 2013

quando passamos as pontes.


     É difícil passar as pontes. É demorado e cauteloso. É, na verdade, uma tarefa que exige tacto e calma. Exige sabedoria e certezas. Passar uma ponte requer a consciência que quando estivermos lá no meio não dá para voltar atrás, deve por-nos a pensar: E se eu quiser voltar? Assumo esse risco? A certeza da passagem não deve estar com quem nos espera do outro lado, a certeza tem de estar connosco. Se não a tivermos não temos nada e mais vale dar meia volta e ficar onde estivemos desde sempre. 
     E depois de passá-la? O que acontece? 

     Love
     C. 

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Uma Gaiola muito portuguesa, com certeza!



     Há filmes que marcam gerações, outros que marcam épocas, outros ainda que marcam um ano em específico. Depois existem os que marcam as pessoas porque contam histórias de pessoas, tal como elas são.

     Entrei no cinema com grandes expectativas e 14 dias depois da estreia. Já tinha lido tudo o que havia para ler sobre o filme: actores, realizador, banda sonora e afins. Já tinha ouvido opiniões de amigos e conhecidos. Só não li as críticas escritas pelos ditos especialistas na matéria, raramente leio e neste caso não seria diferente. 

     A sala estava cheia como há muito tempo não a via, talvez porque vá poucas vezes ao cinema ou simplesmente por ser verdade que a Gaiola Dourada é realmente um sucesso de bilheteira. Sentei-me nos lugares que restavam que por sinal eram os piores. Esperava encontrar tudo aquilo que li e ouvir dizer, esperava chorar e rir, esperava ter todas as experiências que estamos longe de ter num filme banal de domingo à tarde.
     Encontrei mais do que esperava. Ri como há muito não ria numa sala de cinema e tive déjà-vus em muitas cenas do filme. Finalmente um filme onde se pode gostar de clichés, finalmente um filme onde clichés que podiam ser pejorativos se tornaram ternos e dignos de admiração. É difícil, mas conseguiram-no de forma brilhante.

     Adorei a banda sonora, acho que é uma das partes mais importantes de qualquer história. Acompanha-a, realça-a e enaltece-a. Fantástico terem escolhido Rodrigo Leão, fantástico o filme respirar lusitanidade em todos os poros mesmo quando foi produzido em França e se intitula de filme francês. 
     Emocionei na parte do fado. Não foi pela música, não foi pela actriz escolhida. Nesse momento senti-me uma estrangeira que mesmo sem entender nada e de olhos fechados podia sentir o poder do fado e das guitarras portuguesas. Arrepiaram-se-me os pêlos dos braços, arrepiou-se-me a alma. Sensação difícil de transpor para palavras.

     Tenho de confessar a minha admiração pela Rita Blanco, uma admiração que foi gradual e que culminou com este filme. Acho-a talentosa e encontro nela algo que não consigo encontrar em mais nenhuma actriz portuguesa. Tal como o fado, não consigo explica-lo. Não conseguiria imaginar outros actores neste filme, o casting foi perfeito e sinto que cada personagem foi pensada com muito carinho. Foram construções pormenorizadas e que não podiam ter sido feitas de outra forma. 
     Conseguimos ver que realmente o coração de Rúben Alves é português. E mesmo sem saber a nacionalidade, saberíamos que mais nenhum seria capaz de fazê-lo assim, tão genuíno, tão verdadeiro e simples. O facto de, em parte, ser uma homenagem torna-o ainda mais especial. Ele conseguiu numa história tão simples colocar tudo, tudo o que só nos faz orgulhar de sermos quem somos e de podermos sê-lo em qualquer país que escolhamos para ser a nossa nova casa. 
     Na verdade a magia dos filmes está nisso mesmo, tocar o coração das pessoas. A Gaiola Dourada tocou, mostrou à França e lembrou-nos a nós do que somos feitos. 


     Love
     C.

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

chilemos, irmãos!


     Não queiram imaginar como está a minha cabeça esta semana. Estou cansada, estou mesmo cansada. Aquele cansaço que vai muito além do físico e que já se confunde com "estar farta". Melhor, estou farta! Anseio só que tudo fique melhor. E não é que as minhas preces se estão quase a cumprir?! Amanhã é sexta-feira. Amanhã é dia de chilar a sério. Quando der a hora do toque, vou desligar. Vou vestir o biquíni e só o tiro domingo à noite. Vou deitar o corpo no areal, ler revistas e livros, ouvir Seu Jorge no ipod e comer bolas de berlim. Vou comer as que me apetecer. E quero adormecer na praia e no sofá. Quero encher a barriga de petiscos, andar descalça e encher-me de after sun. Quero acordar cedo sem dramas e dores e quero esquecer que depois de sábado é domingo e que segunda-feira vai começar tudo outra vez.

     Love
     C.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

uma família de verdade!





     Já não vos mimava com fotografias de comidinhas boas há muito tempo. Ando desleixada por aqui, mas tenho aproveitado o Verão a sério, juro! Este fim-de-semana fui lá cima em visita de médico. Sabia que, ou ia agora ou ia ficar sem ver muitas pessoas este Verão e por isso meti meia dúzia de trapinhos num saco e parti. Somos muitos e é difícil conseguir juntar toda a gente, falta sempre uma ou duas pessoas que por motivos profissionais não pode aparecer. Ontem ainda não estavam todos, mas mesmo assim foi bom, muito bom. Desta vez batemos os talheres com vista para o Douro e intercalámos boa comida com bom vinho.          Numa mesa para quase 30 pessoas o mérito vai para a anfitriã que preparou comidas deliciosas com muito amor e atenção à mistura. E com amor as coisas têm um poder ainda maior. Gosto de estar assim, de volta de uma mesa grande. Sei que aconteça o que acontecer estaremos sempre assim, juntos! 

     Love
     C.

quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O sitio que nos faz.



     Quando se trata de pessoas gosto de pensar que no fundo somos todos iguais: às vezes maus, às vezes bons. Mas somos especiais por virmos de onde vimos, somos especiais pela história que trazemos na bagagem e sobretudo pelo que nos ensinaram a ser. 

     O espaço onde nascemos e onde aprendemos a caminhar, a escrever e a viver diz tanto de nós como qualquer árvore genealógica que possam ter feito com a nossa história familiar ou mesmo o grupo sanguíneo que a genética nos deu. Às vezes parece só um espaço físico, mas é muito mais do que isso e durante muito tempo a sua importância vai muito além do nosso entendimento e ânsia por sair e conhecer o mundo que nos rodeia.


     Estou em Lisboa há 7 anos. Vim com 18 feitos de fresco e uma bagagem cheia de medos e saudades. Mas sabia que tinha de vir, porquê não sei. Como se esta cidade que tanto me assustava também me puxasse com toda a sua força. Custou imenso, pensei em desistir, pensei em voltar para as saias da mãe e sonhei ter outra vez 16 anos para sempre e nunca ter de crescer. Nos primeiros tempos foi duro, não pertencia aqui, não me identificava com as pessoas e achava que elas nunca me iriam compreender. O silêncio matinal do metro era, todos os dias, uma câmara de tortura. As caras das pessoas perdidas nos livros, jornais, revistas e telemóveis era surreal e parece que ninguém reparava em ninguém, que as pessoas eram só números que estavam ali à espera de sair para realmente se tornarem  “Pessoas”, com história e vida lá fora. Ficava a imaginar onde iria aquele senhor de fato, ou aquela senhora que mastigava umas bolachas enquanto mandava sms’s. Ainda hoje penso.



     Tinha preconceitos com as pessoas daqui, confesso. Não é uma coisa de que me orgulhe, ter preconceitos torna-nos tacanhos e não gosto disso. Esperava encontrar alguém com pronúncia do Norte em qualquer lado que fosse e quando isso acontecia era o aconchego para a alma. Esperava encontrar alguém tão perdido quanto eu e com pronúncia (qualquer que fosse ela) na carteira, alguém com quem pudesse partilhar uma mesa e contar como isto tudo assustava. Encontrei. Isso é o melhor na Universidade. Pensamos que deixámos o conforto do lar para estudar e aprender uma profissão, mas é mesmo muito mais do que isso. E de repente quando sentimos que fizemos “a mudança” de uma vez por todas e que já está tudo devidamente arrumadinho nas devidas prateleiras percebemos que afinal também pertencemos um bocadinho a esta cidade. 


     Somos também uma pedra de calçada portuguesa e ao mesmo tempo turistas em part-time nesta cidade. Somos pecinhas vindo de vários cantos deste país tão pequeno e ao mesmo tempo tão distante de distrito para distrito.


     O B.I. deixa de ser muito importante e a localização actual do facebook também. Eu continuo a ter Trás-os-Montes em todos os meus poros. Ponho a mão na cintura quando refilo ou estou indignada, falo alto e com sotaque, uso expressões. Adoro expressões e adoro quando não me percebem, mas mesmo assim desperto curiosidade. Gosto de dizer de onde venho mesmo que os mais ignorantes façam comentários ridículos e sei que esse sítio que me viu nascer diz muito de mim e da forma como abro a minha porta e o meu coração ao mundo. E afinal estou aqui, o meu coração está lá e eu sou do Mundo.

     A fotografia não podia ser a melhor :) Todos os créditos à minha enorme amiga Mafalda.

     Love
     C.