Há filmes que marcam
gerações, outros que marcam épocas, outros ainda que marcam um ano em
específico. Depois existem os que marcam as pessoas porque contam histórias de
pessoas, tal como elas são.
Entrei no cinema com
grandes expectativas e 14 dias depois da estreia. Já tinha lido
tudo o que havia para ler sobre o filme: actores, realizador, banda
sonora e afins. Já tinha ouvido opiniões de amigos e conhecidos. Só não li as
críticas escritas pelos ditos especialistas na matéria, raramente leio e neste
caso não seria diferente.
A sala estava cheia como há muito tempo não a via, talvez porque vá poucas
vezes ao cinema ou simplesmente por ser verdade que a Gaiola Dourada é
realmente um sucesso de bilheteira. Sentei-me nos lugares que restavam que por
sinal eram os piores. Esperava encontrar tudo aquilo que li e ouvir dizer,
esperava chorar e rir, esperava ter todas as experiências que estamos
longe de ter num filme banal de domingo à tarde.
Encontrei mais do que esperava. Ri como há muito não ria numa sala de cinema e
tive déjà-vus em muitas cenas do filme. Finalmente um filme
onde se pode gostar de clichés, finalmente um filme onde clichés que podiam ser
pejorativos se tornaram ternos e dignos de admiração. É difícil, mas
conseguiram-no de forma brilhante.
Adorei a banda sonora, acho que é uma das partes mais importantes de qualquer
história. Acompanha-a, realça-a e enaltece-a. Fantástico terem escolhido
Rodrigo Leão, fantástico o filme respirar lusitanidade em todos os poros mesmo
quando foi produzido em França e se intitula de filme francês.
Emocionei na parte do fado.
Não foi pela música, não foi pela actriz escolhida. Nesse momento senti-me uma
estrangeira que mesmo sem entender nada e de olhos fechados podia sentir o
poder do fado e das guitarras portuguesas. Arrepiaram-se-me
os pêlos dos braços, arrepiou-se-me a alma. Sensação difícil de
transpor para palavras.
Tenho de confessar a minha admiração pela Rita Blanco, uma admiração que foi
gradual e que culminou com este filme. Acho-a talentosa e encontro nela algo
que não consigo encontrar em mais nenhuma actriz portuguesa. Tal como o fado,
não consigo explica-lo. Não conseguiria imaginar outros actores neste filme, o
casting foi perfeito e sinto que cada personagem foi pensada com muito carinho.
Foram construções pormenorizadas e que não podiam ter sido feitas de outra
forma.
Conseguimos ver que realmente o coração de Rúben Alves é
português. E mesmo sem saber a nacionalidade, saberíamos que mais nenhum seria
capaz de fazê-lo assim, tão genuíno, tão verdadeiro e simples. O facto de, em
parte, ser uma homenagem torna-o ainda mais especial. Ele conseguiu numa
história tão simples colocar tudo, tudo o que só nos faz orgulhar de
sermos quem somos e de podermos sê-lo em qualquer país que escolhamos para ser
a nossa nova casa.
Na verdade a magia dos filmes está nisso mesmo, tocar o coração das
pessoas. A Gaiola Dourada tocou, mostrou à França e
lembrou-nos a nós do que somos feitos.
Love
C.