quinta-feira, 29 de novembro de 2012

análises nos transportes públicos#1


     Sou uma pessoa curiosa e atenta a pormenores. Sou uma pessoa que passaria, facilmente, largas horas sentada num banco de jardim a ouvir música e a ver pessoas a passar. Sim, só a ver pessoas a passar. Gosto de ver pessoas, de reparar nas roupas e nos pormenores. Isto assim parece meio doentio, mas sigo com os olhos, todos os dias as pessoas que entram no autocarro que apanho para ir trabalhar.
     Começo por vos falar da senhora mal encarada que chega sempre primeiro que eu à paragem. Tem dois casacos característicos: um que usa em dias de chuva (que é uma mistura de parka mal amanhada, como se diz na minha terra, com edredom) e outro em dias frios e solarengos que parece ainda mais um edredom. Tem cabelos brancos e revirados para fora com o secador e usa óculos de massa "modernos", mas não tem bom gosto para sapatos. Nunca a vi rir, nem esboçar um sorriso mesmo quando há crianças a dizer coisas engraçadas no autocarro. Sai sempre na paragem do Marquês de Pombal e entra no metro, desaparece entre as outras pessoas apressadas e só a volto a ver no dia seguinte. A quem também nunca vi um sorriso foi à senhora da tatuagem FERNANDO, isto simplesmente porque a apanho sempre de costas a ostentar a sua tatuagem. Às vezes pergunto-me quem será o Fernando. Será um filho? Um marido? Ex marido? Deve ser marido caso contrário iria usar um camisola maior para tapar o arrependimento. Já que falamos de arrependimento tenho de vos falar da senhora de cabelo curto e óculos que, hora entra na minha paragem ou na a seguir. Tenho cá para mim que com este frio hoje se arrependeu de não ter entrado na paragem dos Sapadores já que ali batia o sol e na a seguir não. Tem um ar preocupado, consigo vê-lo na expressão facial e na pressa com que se levanta na paragem anterior à da sua saída, como se tivesse medo de não se levantar a tempo e alcançar a porta.  Autocarro que se preze não passa sem a figura característica que fala tão alto ao telefone que todos conseguem perceber que o fulano X é um aldrabão e não tem mão nos empregados. Falo do senhor com ar simpático, mas com um tom de voz extremamente perturbador para os meus ouvidos acabados de acordar. Ou fala alto (mas mesmo alto) ou há dias em que adormece e ressona um bocado. Prefiro-o neste segundo modo.
     Há também quem nunca me vire as costas. O senhor de camisola bordô e logótipo de qualquer restaurante vai sempre de costas para o caminho, ou seja de frente para mim. Encara-me muitas vezes o que me irrita, mas tento pensar que pode ser para qualquer pessoa que esteja sentada e nunca para mim. Há dias fui comer um prego a Alcântara e foi ele que me serviu. Coincidência? Claro! Apeteceu-me dizer - Não apanhamos o mesmo autocarro? Mas depois mastiguei o prego e esqueci a ideia.
        Qualquer dia estou na fila dos CTT e encontro o rapaz baixinho das Vans. Esse não sei onde entra, mas sai sempre nas Amoreiras com a sua mochila. Às vezes dá-me a impressão que vai a dormir, mas deve ser só da posição mais confortável que encontrou para ler as noticias no iphone. Nunca tira os óculos  por isso por vezes penso, de que cor serão os olhos? A seguir penso no Pedro Abrunhosa e não passa daí. Duas paragens anteriores à minha saída entra o senhor mais distinto do autocarro, pergunto-me onde irá todos os dias à mesma hora de fato e gravata se já não tem idade para trabalhar. Ver os netos, talvez. 
Gosto das roupas da miúda que entra na Almirante Reis, mas acho que não conjugaria assim as peças. Hoje por exemplo, acho que fez uma má escolha ao calçar sabrinas. Está frio.

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         C.

domingo, 25 de novembro de 2012

habemus árvore de Natal.


     Ainda não estamos em Dezembro e já temos uma bela árvore de Natal que a J. montou com todo amor ao som da playlist que eu coloquei no ar para lhe dar mais motivação. Daqui a 6 dias já podemos abrir o nosso calendário de chocolate e ir comendo até ao final do mês. Já há dois miminhos debaixo da árvore e até ao dia mais surgirão. Prendinhas de acordo com a dita crise, mas com imenso gosto, como sempre.

     Love
     C.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

hoje as histórias contam-se em video


     Para quem ainda não viu o que fizemos com tanta dedicação, aqui fica o primeiro episódio do To eat, to love.

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     C.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

das prendas mais fofinhas de sempre#1



     Recebi-o na semana passada e desde aí que não o largo. Veio da Madeira numa caixinha branca e fez-me esboçar um sorriso mal o abri. Não é por ter o meu nome (que não sou narcisista), mas sim porque foi oferecido pela M. e porque é daquelas prendas que ficarão para sempre. Para depois passar aos netinhos.

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     C.

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

uma cama para o Natal.


     E para o ano inteiro. Lembram-se das luzes dos chineses? Pois aqui estão elas. Porque não podemos todas ter uma cama de princesa 365 dias por ano (ou até as luzes se fundirem, pelo menos)?!

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     C.

domingo, 18 de novembro de 2012

nove euros de plafon nos chineses.


     Ainda não tinha confessado aqui a minha paixão por lojas dos chineses. São um verdadeiro caos esteticamente, está tudo desarrumado, pouco organizado, tem produtos horríveis e com cores que fazem doer os olhos mais sensíveis, mas por outro lado encontram-se coisas fantásticas e baratinhas. Quando lá vou não consigo evitar um desejo enorme de comprar coisas e coisas e coisas, na maior parte das vezes coisas inúteis. O facto de lá ter tralha a dar com um pau faz crescer em mim uma vontade enorme de comprar e inventar que comprar. 
     Hoje entrei com a minha irmã na loja que fica perto aqui de casa. Fomos com o objectivo de comprar um estendal para prender na janela e secar roupa em dias de sol. Pelo caminho perdemos-nos e comprámos umas luzes de Natal, não fosse ela e eu ainda teria trazido mais tralha inútil. Quando chegámos a casa e tentámos dar uso ao estendal percebemos que temos uma janela demasiadamente grande e não medimos bem a compra. Mas tínhamos tido a (excelente) ideia de tirar o plástico transformando assim em 10% a probabilidade que existiria do chinês nos deixar trocar ou nos devolver os nove euros que o estendal custou. O senhor oriental e amável lá nos tentou explicar que dava para ajustar, nós lá lhe tentámos dizer que já tínhamos experimentado de várias formas e no final conseguimos convence-lo a trocar. Como tínhamos pago com multibanco não nos podia devolver o dinheiro, mas tínhamos nove euros de plafon para gastar. Isso mesmo, o senhor chinês estava a dizer-nos que tínhamos nove euros para escolher o que quiséssemos. Não imaginam a minha cara de felicidade. A minha irmã precaveu-me de que deveríamos escolher coisas úteis. Optámos por dois vernizes para juntar à colecção de quase 100 (bastante útil portanto), discos desmaquilhantes (embora ambas achemos que as toalhitas continuam a ser mais práticas), uma caneca de plástico, um gel de banho que usamos como sabão líquido das mãos e uma tripla. Viemos felizes com as compras e a achar que, embora o desejo de comprar porcaria, tínhamos trazido coisas que nos faziam falta (ou mais ou menos falta).
     Quando voltámos para casa e ligámos as luzes de Natal percebemos que tínhamos trazido umas azuis em vez de brancas. Voltámos à loja e conseguimos ver o ar de frete do senhor, nem precisámos de estar com grandes explicações, ele mandou-nos logo descer e trocar o que pretendíamos. Acho que ficamos a ser clientes da casa.

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     C.

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

são as pessoas.


Às vezes não sabemos porque vamos parar aos locais, outras vezes não percebemos o porquê de termos de nos despedir desses mesmos locais. Por vezes não sabemos porque gostamos dos lugares, nem tão pouco porque, apesar dos momentos menos bons, as recordações que prevalecem são sempre as melhores. Na verdade é pelas pessoas. As pessoas são sempre a causa. Gostamos das pessoas e elas fazem-nos gostar do resto.

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C.

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

sobre greve, trabalho e sanidade mental.


      Hoje em que, supostamente, o país parou para fazer greve eu lembrei-me de escrever sobre trabalho. Nada contra as greves, aliás é um direito e como todo o direito deve ser respeitado. Nada contra os não aderentes, também. Graças a Deus vivemos numa democracia (mesmo que confusa, por vezes) e por isso cada um deve agir de acordo com as suas convicções.
      Não aderi à greve e embora saiba que temos de lutar pelos nossos direitos hoje resolvi vir trabalhar ainda mais feliz do que venho todos os dias (tirando à segunda-feira, claro). O facto de ter tido o melhor timing possível com os serviços da Carris a 50% também ajudou ao meu bom astral de hoje. 
     Trabalhar é muito mais do que cair uma quantia definida na conta todos os meses. Trabalhar é uma espécie de terapia, uma espécie de estimulo na criatividade e na nossa presença no mundo. Trabalhar é na verdade a melhor forma que encontrei de equilibrar a minha sanidade mental. E quando olho para certas pessoas percebo que tanta estupidez só pode vir do facto de serem pesos mortos na sociedade e inutilidades na própria vida de quem as rodeia. Sim falo dessas pessoas que não nasceram para trabalhar nem produzir nada de útil, essas pessoas sem objectivos ou sonhos.
     Não falo das pessoas que com a crise não conseguem arranjar trabalho ou perderam o seu. Essas continuam focadas e empenhadas em encontrar o seu lugar ao sol, essas são o motivos de orgulho para elas mesmas e para quem todos os dias lhes planta a esperança. Essas, mais cedo ou mais tarde, vão acordar num dia de greve e sentir que nada lhes poderá afectar o dia.

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     C.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

toma bitch.


     Desculpem-me lá a frontalidade, mas o meu estado de espírito hoje é este e esta é a foto mais adequada para vos dizer que há coisas que me tiram do sério e pessoas. Sobretudo pessoas. Juro-vos que hoje preferia ficar na agência e fazer horas extras, já tenho lá a minha escova de dentes só me faltava o pijaminha. O dia não começou bem. O dia não acabou bem. Devia pensar em exorcizar esta casa.

     Special thanks: D. e J.

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     C.

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

sobre os erros e sobre cometer os mesmos.


     Hoje em conversa com a D. falávamos de erros. Mais concretamente de cometer os mesmos erros, uma vez ou mais, conscientemente ou inconscientemente. Valerá a pena? Depois aquela conversa do "nunca vais saber antes de tentar" começa a deixar de fazer qualquer sentido. Não somos educados para sermos pessoas inteligentes e racionais e para sabermos fazer escolhas, sobretudo boas escolhas? Isso implica ter sabedoria suficiente para não bater no ceguinho, isso implica saber o que é melhor para nós. Sabendo que da primeira vez não foi o melhor também não será agora. As pessoas erram e pedem desculpas e as desculpas até são aceites, mas as pessoas não mudam. Mudam os tempos, mudam as vontades..as pessoas não!

     Da playlista da M. : Air - Kelly watch the stars

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     C.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Lisboa pela noite.


     A cidade, assim como as pessoas, precisa de espaço, tempo e silêncio. Devia existir um botão de SOS onde podíamos clicar sempre que quiséssemos tudo isso e não tivéssemos tempo nem oportunidade para ser um cidade pela noite, só uma cidade vazia e ampla. Devíamos ter direito a isto, nem que fosse uma vez por mês. Devíamos poder carregar no pause e ficar assim: deserta e silenciosa. Só com a luz que nunca se apaga e o cheiro a nada. 

     Love
     C.